sexta-feira, 30 de setembro de 2011

0030 - MOLION: INUNDAÇÕES NÃO SÃO PROVOCADAS PELO AQUECIMENTO GLOBAL

PROFESSOR LUIZ CARLOS MOLION

Paulo Roberto Cruz    23/01/2011               

paulocruz@comerciodojahu.com.br

O pesquisador brasileiro Luiz Carlos Molion, 62 anos, combate a tese de que há um processo de aquecimento global e de que o aumento da temperatura da Terra seria o causador de catástrofes como a que ocorreu na região serrana do Rio de Janeiro. 


Ele diz que a atuação irresponsável do homem, ao ocupar áreas impróprias e não prevenir eventos comuns, como enchentes, provoca mortes, sobretudo no Brasil. Molion, que é professor da Universidade Federal de Alagoas, também critica a falta de atuação política para evitar essas situações.


Leiam a entrevista ao jornal Comércio do Jahu.

Comércio - Tivemos neste mês, em vários pontos do Brasil e do mundo, problemas causados pelas chuvas. Até que ponto essa situação está relacionada às mudanças climáticas?


Luiz Carlos Molion - As chuvas estão relacionadas às mudanças climáticas porque o Oceano Pacífico tem mudanças de temperatura a cada 50 ou 60 anos. Ele se aquece por 25 ou 30 anos e se resfria pelo mesmo período de tempo. Quando uma região extensa como o Pacífico muda sua temperatura, todo o clima global é influenciado. De 1977 a 1998 tivemos aquecimento do Pacífico, levando ao aumento de temperatura. Agora o Pacífico está dando sinais de que está esfriando.

Comércio - Tornou-se comum dizer que há aquecimento global e que inundações são provocadas por esse fenômeno. O senhor concorda com essa afirmação? Por quê?


Molion - As inundações não são provocadas pelo aquecimento global. Existe uma mudança no clima no sentido de que o Pacífico está esfriando. Isso acarreta mudança em todo o globo, como os invernos rigorosos no Hemisfério Norte. Na Inglaterra, por exemplo, este dezembro foi o segundo mais frio em 350 anos, só perdeu para 1814.

Comércio - O que favoreceu a tragédia na região serrana do Rio de Janeiro, em sua opinião?


Molion - O homem sempre agrava a situação, à medida que ele desmata e ocupa encostas, pois isso piora o impacto dos fenômenos. Mas é importante lembrar que fenômenos de mesma intensidade já ocorreram no passado. Em comparação a outros anos, no entanto, houve uma redução de 10% a 20% na intensidade.

Comércio - Está em tramitação no Congresso o novo código florestal, que pode permitir a ocupação de morros e áreas de várzeas. Não seria uma autorização formal para que catástrofes naturais continuem a ocorrer no Brasil?


Molion - Temos um problema sério que é o aumento populacional e o fenômeno da aglomeração de pessoas em grandes centros urbanos. Cinquenta e cinco por centoda população do mundo vivem em grandes cidades. Necessitamos de políticas públicas que impeçam as pessoas pobres ou miseráveis de ocupar áreas de risco e não que incentivem.

Comércio - O Brasil possui centros de estudos climáticos muito avançados. Por que o trabalho que realizam não previne situações como a do Rio de Janeiro?


Molion - Não adianta ter a melhor informação do mundo, a mais precisa, se não há pessoas qualificadas e um plano adequado para usar essas informações. Em Bauru, há um radar e o Estado de São Paulo está comprando um novo, além dos três já existentes. Aqui os prefeitos e governantes não estão nada preocupados. De 5,6 mil municípios, menos de 400 tem plano integrado de Defesa Civil.

Comércio - O senhor acredita que as providências anunciadas pelo governo brasileiro para evitar catástrofes naturais terão resultados satisfatórios?


Molion - Não acredito nas medidas do governo. Logo no início do governo Lula, participei e contribuí para a elaboração de Plano Nacional de Defesa Civil, mas não saiu do papel. O discurso político é grande porque a catástrofe aconteceu no Rio de Janeiro. O governo está anunciando medidas por causa da Copa de 2014 e das Olimpíadas.

Comércio - Enquanto no Brasil tivemos problemas com as chuvas neste ano, no Hemisfério Norte as nevascas foram intensas. Foi um fato isolado ou há uma tendência de que haja invernos mais frios nos próximos anos?


Molion - O resfriamento global é pequeno, com baixa na temperatura de apenas 0,3 a 0,5 graus. Mas ele se manifesta por meio de invernos rigorosos, como ocorreu em 2005, 2007 e 2010. Na América do Sul, esperamos um inverno mais rigoroso para julho.

Comércio - O senhor combate a tese de que há gás carbônico (CO2) em demasia na atmosfera e de que seria o causador do aquecimento global. Qual sua opinião a respeito dessa afirmação? 


Molion - Não concordo com essa afirmação. O clima global é controlado pelo sol e pelo calor armazenado nos oceanos, e não pelo CO2. Na região tropical, há mais um controlador que é a cobertura de nuvem. Inevitavelmente, vamos entrar em um período frio nos próximos 20 anos. 

Comércio - Mas as calotas polares diminuíram e isso está comprovado por imagens de satélite. Não seria um efeito do aumento da temperatura da Terra?


Molion - O degelo de calotas foi bastante grande, com pico em 2007. Houve 1,4 milhão de quilômetros quadrados de redução no Ártico. Isso ocorreu porque o Atlântico Norte também tem variação de temperatura a cada período de 20 a 40 anos. A partir de 1995, o Atlântico começou a se aquecer, de maneira que as águas estão 0,6 ºC ou 0,7ºC mais quentes. Assim que o Atlântico começar a esfriar, menos água quente será transportada para o Ártico e ele será coberto novamente de gelo. 

Comércio - Historicamente, temos estações bem definidas em países do Hemisfério Norte e o inverso no Sul. É correto dizer que esse quadro está em fase de mudanças? Por quê?


Molion - Não é correto. O padrão vai continuar assim, porque as estações do ano são definidas por parâmetros astronômicos, como a órbita da terra em torno do sol, a inclinação do eixo de rotação e o bamboleio do eixo, que é chamado de precessão dos equinócios. É isso que controla o fluxo de radiação que chega do Sol e que estabelece as estações do ano. A menos que os padrões orbitais mudem drasticamente, ninguém pode afirmar que haverá uma inversão.

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